sexta-feira, 26 de julho de 2013

Depoimento - Amanda Andermann



Quando o Povo Cigano Acampou na Minha Vida...


           
Se tem uma coisa na minha vida de que sempre gostei e sem o que não consigo viver, é a dança em todas as suas formas ritmos e diria até mesmo, todas as suas cores, rsrsrs. Desde muito criança sempre adorei dançar qualquer coisa que fosse, samba, forró, rock, country, enfim sempre gostei de tudo menos do funk sem ser o melody.
            Por isso quando eu tinha 15 anos, já fazendo aula de Capoeira desde os 13, comecei a reparar o inevitável, que o que eu gostava mesmo era da parte de música e dança e não da luta em si. Por isso eu saí, fiz uma aula experimental de dança do ventre na Academia Rio Gym (próxima da minha casa) e essa então fixou verdadeira casa de família (do tipo que passa de geração em geração na minha vida) até hoje. Porém, depois de eu estar fazendo aula já há três anos, cancelaram a turma de dança do ventre por falta de alunas e, querendo continuar meus estudos de dança do ventre, conheci o Asmahan ainda em 2005, onde continuei fazendo dança do ventre e estou até hoje.
            E curiosamente foi exatamente através da dança do ventre que, quase por acidente, tomei contato pela primeira vez com a dança cigana. Senti necessidade de fazer aula de dança mais vezes por semana e por isso, assim que abriu a primeira turma de dança cigana no Asmahan, resolvi fazer dança cigana além da dança do ventre. De início, comecei a fazer aula com a professora Yasmin Rajal e depois, como ela infelizmente teve que sair devido a impedimentos físicos, continuei com a mestra Annya Kalitsch, que entrou em seu lugar.
            De início eu achava que fosse ser simplesmente “só mais uma dança”, afinal até então nenhuma outra dança (por mais que eu goste de todas) tinha tocado tão profundamente na minha alma quanto a dança do ventre. Porém, o momento crucial em que, digamos, “as barracas foram fixadas” foi na primeira apresentação que fizemos com a Annya, no carnaval das culturas no ano passado. Da minha bagagem de dança do ventre sempre aprendi que toda dança pede uma expressão fácil (emoção) condizente com ela e que deve ser passada ao público para que esta seja aproveitada ao máximo, então perguntei à Annya que expressão seria condizente com a dança cigana. Ao que ela me respondeu: “Alegre e principalmente sempre de cabeça erguida, isso porque em toda a sua história os ciganos sempre foram párias, imagina então se, pra completar, eles ficassem de cabeça abaixada.”
            Foi aí que a dança cigana conseguiu de fato tocar meu íntimo, pois pra mim, que tive a minha auto-estima destruída por ter sofrido bullying durante muito tempo e que em grande parte devo sua reconstrução à dança do ventre, aprender a andar sempre de cabeça erguida é fundamental, não só na dança como também na vida. Confesso que ainda sinto um pouco de dificuldade e de vez em quando me pego olhando pra baixo, mas um dia tenho certeza que conseguirei chegar ao nível “cigana metida”.Também, não sei se pelo fato de meus antepassados terem vindo do Leste Europeu (Letônia), tem algo a mais na dança cigana que parece de certa forma me chamar. Como se alguma avó ou bisavó minha tivesse me aconselhado a fazer e continuar na aula.
Mas por fim, está aí, graças a todas essas influências hoje posso dizer que em minha alma existe um edifício de dança do ventre e do ladinho dele (de forma bem parecida com muitos países europeus) um acampamento cigano em que toda quarta se acendem todas as fogueiras.

Amanda Andermann (Quem sabe futuramente Malika Simza?)

2 comentários:

  1. Belo texto hein Amanda! Senti que veio do fundo da alma e do coração. De parabéns! Obrigada pela sua genial ideia dos depoimentos e por sua colaboração tão rápida.

    Beijos

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  2. Puxa Amanda que depoimento sentido, parabéns e saudades suas! Bjs

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